O uso de cigarros eletrônicos, conhecidos como vapes, pod's, entre outros, está se tornando cada vez mais comum na sociedade brasileira, especialmente entre os jovens. De acordo com uma pesquisa recente conduzida pela Universidade Federal de Pelotas, um em cada cinco jovens brasileiros consome cigarros eletrônicos, sendo uma prática mais prevalente na faixa etária de 18 a 24 anos.

 


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Além de ser uma tendência preocupante, o aumento no número de usuários de vape no país também traz dúvidas sobre os possíveis efeitos prejudiciais associados a essa prática, uma vez que os cigarros eletrônicos ainda não estão regulamentados no Brasil, e os estudos sobre os impactos a longo prazo de seu uso estão em estágios iniciais. Para ajudar a esclarecer as principais dúvidas sobre o assunto, convidamos o médico pneumologista cooperado da Unimed Nordeste-RS Dr. André Becker a esclarecer os principais perigos associados ao vape em comparação com o tabagismo tradicional. Confira:

 

Unimed Nordeste-RS: Quais são os principais perigos associados ao uso do vape, especialmente em comparação com o tabagismo tradicional?

Dr. André Becker: Em primeiro lugar, é importante entendermos que não existe somente um tipo de vape. São vários e com as mais diversas substâncias e níveis de nicotina, a qual pode ir de zero até concentrações bastante altas, superando até os cigarros convencionais. Sendo assim, em países onde o comércio do cigarro eletrônico não é regulamentado, como é o caso do Brasil, o maior risco do vape é simplesmente não sabermos quais as substâncias o usuário está inalando. Outro fator importante é a maior aceitação por jovens e até mesmo crianças do uso destes dispositivos, causada pelo seu apelo visual, e de sua melhor aceitação em locais públicos quando comparado ao cigarro convencional.

 

U: Como o uso do vape afeta a saúde pulmonar, considerando os componentes químicos presentes nos líquidos vaporizados?

D: O uso do vape em longo prazo ainda está sendo estudado em todo o mundo. Sendo assim, seus efeitos ainda não são totalmente conhecidos. A maioria dos grandes estudos mostra efeitos menos lesivos que os cigarros convencionais, fato que levou até mesmo ao seu estímulo em fumantes de países como o Reino Unido. Ainda assim, é muito importante que se diga que o cigarro eletrônico prejudica a saúde pulmonar pela presença de metais e outras substâncias cancerígenas produzidos em sua fumaça e que seu uso deve ser fortemente desestimulado em crianças, adolescentes e em pessoas não fumantes.

 

U: Com a crescente popularidade do vape entre os jovens, quais são os riscos específicos dessa prática para essa faixa etária? Há diferenças significativas em relação aos adultos?

D: A popularização do vape em adolescentes e até mesmo crianças é um dos maiores desafios de saúde pública para esta faixa etária nos próximos anos. Seu uso está tendo aumento exponencial em todo o mundo. Estudos mostram claras evidências que o uso precoce de nicotina nesta faixa etária aumenta em muito o risco de dependência. Além deste fator, a nicotina afeta a formação do sistema nervoso central nesta população.

 

U: Como abordar a percepção errônea de que os cigarros eletrônicos são "mais seguros" em comparação com os convencionais?

D: Esta é uma das questões mais importantes a serem respondidas no futuro próximo.  Embora estudos bem desenhados mostrem que o cigarro eletrônico é menos prejudicial à saúde do que o cigarro convencional, deve-se sempre lembrar que as substâncias ali produzidas não são fiscalizadas, são pouco estudadas e que a carga de nicotina não é totalmente monitorada pelo usuário. Ou seja, ao fumarmos um cigarro, sabemos o quanto inalamos de nicotina. No vape, isso é dependente de outras variáveis ainda não mensuradas no Brasil. Outro fator bastante importante é exatamente a expressão “mais segura”.  Tal rótulo tende a apresentar este produto como algo seguro, o que não é de forma alguma. O cigarro eletrônico, tanto quanto o convencional, faz mal à saúde. Assim sendo, não podemos usar a expressão segura para uma substância que prejudica o usuário.

 

U: Como médico, quais são os desafios que enfrenta no diagnóstico e tratamento de pacientes que desenvolveram problemas de saúde relacionados ao uso do vape? Existem características específicas que tornam esses casos distintos?

D: Sem dúvida, a principal preocupação para o pneumologista brasileiro a respeito do cigarro eletrônico é sua falta de regulamentação e consequente ausência de fiscalização.  Outro fator que nos deixa apreensivos é a abordagem de uma população bem mais jovem e que não se preocupa com efeitos a longo prazo do uso de nicotina e as outras substâncias contidas no vape. Somam-se a esses fatores o glamour a que este hábito tem sido associado na população mundial e ao fato de ser mais socialmente aceito do que o cigarro convencional. Até mesmo em lugares fechados o seu uso tem sido permitido.

 

U: Para encerrar, quais conselhos daria para aqueles que utilizam vape atualmente e para a sociedade em geral? Como podemos aumentar a conscientização sobre os riscos associados a essa prática?

D: Acho que esta é a mensagem mais importante que posso passar como especialista. O uso do vape é prejudicial à saúde. Embora os estudos demonstrem menos prejuízo que o cigarro convencional, ainda assim é um produto que causa uma série de doenças pulmonares. Seu uso não deve ser estimulado, principalmente para jovens e não fumantes. Para aqueles que fazem uso, procurem ajuda. Livrem-se deste mau hábito, preocupem-se com sua saúde. Envelhecer e deixar de ser saudável são coisas que nos acontecem mais rápido do que a gente gostaria. Nosso eu do futuro está logo ali e ele vai nos cobrar os descuidos que tivemos com nosso corpo esses anos todos.

 

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